domingo, 14 de junho de 2009

Dura moldura

Não tiveram filhos
só tiveram casa.
Não tiveram sorte
só tiveram dinheiro.
Então eles se conheceram.
Um dia eles se beijaram
no outro casaram
e lá no finalzinho
apenas se olharam
e disseram tudo que queriam
por todas as suas vidas.
Um dia eles se amaram
no outro se entenderam
e lá no finalzinho
faltaram-lhes as palavras
de consolo.
Daí então eles morreram
como se nunca tivessem
se conhecido.

Os velhos quadros da casa
ficaram de herança para ninguém.
Os tapetes mofados
foram doados
a quem os quisesse por primeiro.
E o que sobrou do dinheiro
ainda está guardado
na terceira gaveta
de baixo para cima.
Aquela mesma gaveta
onde quase sempre
ficava guardada a toalha da mesa.
Por razões complexas
à leilões foram os carros.
E por questões jurídicas
ficaram guardados outros casos.
E diga-se por aqui –
ai de quem desenterre tais fatos.

Engraçado foi afinal o encaixe
bem vestido de disfarce.
O fim era bem vindo.
O fim era preciso.
Começaram pelo nome
passaram pela imagem
chegaram à mentira.
Afundaram-se no respeito.
Sobretudo viveram
e deixaram seus nomes
para que os contentes
lembrassem não de suas histórias
mas de que existiram.

Sobretudo morreram
e deixaram as contas a pagar.
Concluímos então:
viver foi distração.

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